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Turismo de Base Comunitária fortalece agroecologia e resistência no Assentamento Nova Esperança

No coração do Sertão alagoano, às margens dos cânions dourados do São Francisco, um grupo de mulheres tem transformado o Assentamento Nova Esperança, em Olho D’Água do Casado, em referência de turismo de base comunitária e sustentável. O receptivo da comunidade, coordenado por oito mulheres, tornou-se espaço de acolhida para visitantes do Brasil e do exterior, que buscam experiências autênticas de convivência com o Semiárido e contato direto com a agricultura familiar.


Segundo Ana Paula, integrante do grupo, o turismo é apenas uma das frentes de resistência do assentamento, que também organiza coletivos de jovens, saúde e educação. “Nosso turismo de base comunitária respeita a agricultura, que é a base de qualquer assentamento. Ao mesmo tempo em que recebemos visitantes, cuidamos da nossa comunidade e do nosso território”, explica.


O receptivo oferece muito mais do que passeios: ali, os visitantes conhecem o artesanato local, experimentam produtos da biodiversidade da Caatinga — como licores de juá, tamarindo, murici e umbu, além de geleias — e vivenciam o cotidiano da agricultura familiar. Atividades como cuidar das galinhas com seu Damião ou acompanhar o trabalho do agricultor Agaiton permitem que estudantes e turistas compreendam de onde vêm os alimentos, muitas vezes invisibilizados pela industrialização.


Essa organização comunitária nasceu da necessidade de romper com o modelo do turismo de massa, que se concentra nos cânions e no pôr do sol, mas pouco beneficia as famílias locais. “Antes, muitas agências exploravam nosso território sem deixar nada. Hoje, buscamos garantir que todo turista que entra na comunidade pare no receptivo. Isso gera renda e fortalece a comunidade, porque a associação compra os produtos locais e envolve mais famílias”, destaca Ana Paula.


Apesar dos avanços, desafios persistem. A falta de abastecimento de água é um dos mais graves. Moradores relatam que, após a privatização da gestão do canal, a distribuição irregular e precária deixou assentamentos inteiros sem fornecimento. “Nós temos água encanada, mas não temos água. Dizem que é porque não pagamos, mas antes ela dava de sobra. Hoje, ficamos dias com sede”, relata um agricultor da comunidade.


Essas dificuldades se somam à urgência de recuperar áreas degradadas e enfrentar a desertificação que ameaça vastas regiões do Semiárido. O Projeto REDESER, em parceria com a AGENDHA, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a FAO e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), chega como um importante aliado. A iniciativa prevê a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAF) e práticas de Gestão Integrada dos Recursos Naturais (GIRN), com a meta de recuperar e manejar de forma sustentável mais de 13 mil hectares, beneficiando cerca de 200 famílias na região.


Além da recuperação ambiental, o projeto investe na promoção da agroecologia e da convivência com o Semiárido, com ações como implantação de viveiros florestais, capacitação de técnicos e fortalecimento de bancos de sementes. No Brasil, 16% do território está suscetível à desertificação, atingindo 1.490 municípios e cerca de 35 milhões de pessoas. No Sertão, iniciativas como as do Assentamento Nova Esperança tornam-se exemplo de resistência.


Entre cânions, sítios arqueológicos e paisagens únicas, a comunidade mostra que é possível unir preservação ambiental, geração de renda e fortalecimento da cultura sertaneja. Mais do que receber turistas, o Nova Esperança constrói, no dia a dia, um modelo de desenvolvimento sustentável que valoriza as pessoas e o território.


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