Encontro em Piranhas reúne famílias assentadas e instituições parceiras para avaliar os impactos do Projeto REDESER no Sertão de Alagoas
- Bruna Cordeiro - ASCOM

 - há 11 minutos
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Seminário “Cultivando Água” compartilha tecnologias sociais, metodologias e estratégias desenvolvidas com objetivo de combater a desertificação e recuperar áreas degradadas no bioma Caatinga.

Desde 2024, o REDESER vem transformando a paisagem do Sertão de Alagoas. Foram implmentados 52 Barrocais (Barramentos com Rochas Ombreiradas para o Cultivo em Aluviões da Sociobiodiversidade), 30 RAMPAS (Reservas Agroecológicas de Mandacarus, Palmas e Outras Forrageiras da Sociobiodiversidade) e 09 Sistemas Agroflorestais Ciliares (SAFs), beneficiando diretamente 30 famílias agricultoras e outras 100 de forma indireta.
Nos dias 29 e 30 de outubro, o Centro Xingó de Convivência com o Semiárido, em Piranhas (AL), recebeu agricultoras, agricultores, lideranças comunitárias, pesquisadores e representantes de instituições públicas e da sociedade civil para o Seminário de Conclusão das Ações da AGENDHA no REDESER – Revertendo o Processo de Desertificação nas Áreas Suscetíveis do Brasil.
Realizado em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), a FAO/ONU e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), o evento marcou o encerramento de um ciclo iniciado em 2024 e que vem transformando a realidade de dezenas de famílias assentadas em sete assentamentos rurais distribuídos nos municípios de Delmiro Gouveia (Bom Jesus/Serra Negra e Maria Bonita – Km 44), Olho D’Água do Casado (Nova Esperança, PA Costa II e PA Boa Sorte) e Piranhas (Olga Benário e Dois Irmãos).
Durante dois dias de intensa programação, o seminário combinou vivências de campo, demonstrações práticas, rodas de diálogo com sistematização das experiências desenvolvidas. As atividades aconteceram nos assentamentos Olga Benário e Boa Esperança.
Cultivando água e vida nas Caatingas
As iniciativas do projeto transformaram a paisagem e a relação das comunidades com a Caatinga.

O agricultor Everaldo, do assentamento Dois Irmãos, destaca a diferença já perceptível na terra:
“Antes, nessa época do ano, essa areia já estaria completamente seca. Hoje, se cavarmos um palmo, encontramos água. Isso muda tudo: agora temos água para produzir e para dar aos nossos animais. Antes, quando o gado sentia sede, precisávamos ir longe, até o riacho. Agora, com pequenas barreiras, conseguimos reter a água aqui mesmo. Esse projeto é fundamental para o pequeno agricultor. Só não abraça quem realmente não quer viver da roça. Porque quem entende o valor disso sabe que é uma oportunidade de permanecer no campo, produzir e viver com dignidade.”

Outro resultado visível é a valorização das plantas nativas como alternativa alimentar e forrageira. O agricultor Damião explica:
“Ah, mas não está produzindo um pé de milho aqui, o foco não foi o pé de milho, foi a planta nativa daqui, no qual a gente foi instruído da situação, que tipo se o carneiro tiver gordo, nós come, vai melhorar para nós, então não diretamente com o milho, porque nossa região aqui é muita chuva, muito desorganizada, então a gente às vezes não tem o milho para fazer a ração para engordar o carneiro, mas nós temos a folha da catingueira aí, que pode ser utilizada e de outras árvores, que pode ser usada como forrageira, que também vai engordar o carneiro para nós comer.”

Para Mazé, agricultora do mesmo território, o aprendizado vai além das práticas agrícolas:
“Em um dos eventos dos projetos foi ensinado a fazer alimento com a forrageira da própria folha das plantas nativas, quer dizer, nós tendo as árvores nos riachos através dos barrocais, nós temos como tirar as folhinhas e passar na forrageira e fazer ração para os nossos bichos, dá ração para os nossos animais.”
Um projeto construído em parceria
Durante a abertura do seminário, Alexandre, representante do Ministério do Meio Ambiente, destacou a importância da cooperação entre comunidades, sociedade civil e Estado:
“A gente não consegue realizar essas ações sozinhos. Ou fazemos em parceria com as comunidades — com as pessoas a quem os projetos realmente servem — ou não conseguimos avançar. Os projetos não existem para o Banco do Nordeste, para o MDA, para a EMATER ou para a AGENDHA; eles devem estar a serviço das pessoas, atendendo às necessidades que as comunidades apresentam. Como não conseguimos fazer isso de forma isolada, precisamos compreender que só é possível realizar esse trabalho juntos — com as comunidades, com as instituições parceiras, com o governo e com a sociedade civil.”

O representante da FAO, Timbó, reforçou que a força do projeto está na participação das próprias comunidades:
“Eles só conseguiram realizar esse trabalho com o aval de vocês — as lideranças que sempre estiveram presentes e que representam esta comunidade. Deixo, portanto, um agradecimento especial a todos que aceitaram, se sensibilizaram e se mobilizaram para a implementação das atividades no âmbito do Projeto REDESER, implementado pela FAO e pelo Ministério do Meio Ambiente aqui no território.”
A presidenta da AGENDHA, Marilac, também celebrou o protagonismo das famílias beneficiárias:

“Vocês que acolheram tão bem o nosso projeto, que o abraçaram e acreditaram nele, agora têm a missão de multiplicá-lo em suas regiões. Mostrem que ele realmente trouxe resultados — que é possível melhorar o rebanho, a qualidade da forragem e ampliar as áreas produtivas. Esse é o nosso desejo: que vocês multipliquem esse projeto tão importante e tão bem recebido aqui na região.”
Da experiência à articulação: nasce a Rede ARADAS
Um dos momentos mais significativos do seminário foi a criação da Articulação para a Recuperação de Áreas Degradadas de Alagoas – Rede ARADAS, formalizada em ata coletiva. A rede nasce como um coletivo multissetorial, formado por famílias assentadas, organizações da sociedade civil, movimentos sociais, órgãos governamentais, instituições de ensino, pesquisa e extensão, com o objetivo de consolidar os aprendizados e resultados do Projeto REDESER e ampliar as ações de recuperação ambiental em todo o estado de Alagoas.
A Ata de Criação da Rede ARADAS foi assinada por 30 famílias e lideranças dos seis Projetos de Assentamento do Programa Nacional da Reforma Agrária — Maria Bonita (ou 44), Patativa do Assaré, Nova Esperança, Dois Irmãos e Olga Benário — e de um projeto do Programa Nacional de Crédito Fundiário, o Serra Negra (ou Bom Jesus). O processo contou com o apoio do MST, da EMATER Alagoas, do Banco do Nordeste (BNB), da Superintendência do MDA em Alagoas, da Secretaria de Meio Ambiente de Olho D’Água do Casado, além de universidades, institutos federais e estaduais.
A Rede tem como missão reunir conhecimentos e experiências tradicionais, agroecológicas e científicas de povos e comunidades rurais, promovendo a articulação entre diferentes atores para propor, implementar, monitorar e avaliar políticas públicas e iniciativas voltadas à recuperação de áreas degradadas (RADs) — em roçados, quintais produtivos, pastagens naturais, sistemas agroflorestais, áreas de reserva legal e de preservação permanente.

Estiveram presentes no Seminário, representantes do MTC (Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores do Campo), BNB (Banco do Nordeste do Brasil), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), DCDE – MMA (Departamento de Combate à Desertificação, do Ministério do Meio Ambiente), FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), COPABACS Sementes (Cooperativa dos Pequenos Produtores Agrícolas Bancos Comunitários de Sementes), EMATER Alagoas (Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoa), Associação Pegadas na Caatinga, MDA Alagoas, e representantes dos Projetos de Assentamento Bom Jesus (Serra Negra), Costa II, Maria Bonita (44), Olga Benário, e Nova Esperança.
Bruna Cordeiro para a AGENDHA












































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