Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019), a agropecuária representa cerca de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. No entanto, essa atividade também apresenta um desafio significativo: as emissões de gases de efeito estufa. Para enfrentar esse desafio, as Tecnologias de Agricultura de Baixo Carbono (TecsABC), integradas às estratégias da AGENDHA para a recuperação de áreas degradadas, têm contribuído para que o Projeto Rural Sustentável da Caatinga (PRS Caatinga) alcance sua principal meta: a mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Essas emissões, conhecidas como GEE, têm sido agravadas pela aceleração da pecuária extensiva, impactando diversas comunidades e assentamentos rurais na região onde o projeto atua.
No Dia de Campo realizado na Comunidade Pedro Leão, tivemos a oportunidade de conhecer a experiência de conservação e manejo da caatinga do agricultor Senivaldo Ribeiro e da agricultora Daniela Santos. Foi um dia bastante produtivo, no qual foram implementadas três tecnologias sociais da AGENDHA.
A criação da RAMPA (Reserva Agroecológica de Mandacarus, Palmas e outras Forrageiras da Sociobiodiversidade), um Sistema Agroflorestal e Socioambiental Ciliar chamado SAFs Ciliar, e também a construção de um Barramento em Arco Romano com Rochas Ombreadas para Cultivos em Aluviões, conhecido como BARROCAL. Este último projeto seguiu a metodologia do Sistema Base Zero (BBZ).
Conservação e Manejo da Caatinga
O PRS Caatinga da AGENDHA está trabalhando na implementação de 06 Unidades Demonstrativas (UDs) e 54 Unidades Multiplicadoras (UMs). Trata-se de um conjunto de ações integradas que envolvem toda a família e têm como objetivo a implementação de tecnologias de baixa emissão de carbono, que envolvem o acompanhamento de 60 famílias das comunidades Pedro Leão, Lagoa da Volta, Povo Indígena Xokó na Ilha São Pedro, Assentamento Ana Patrícia II, Assentamento Pedrinhas, Garrote do Emiliano, Bom Jardim, Lagoa Dantas e Assentamento Novo Paraíso, localizadas nos municípios de Porto da Folha e Poço Redondo.
A URAD (Unidade de Recuperação em Áreas Degradadas) é uma iniciativa única no Brasil, que conta com o apoio e a participação de diversas entidades, visando desenvolver uma agenda de implementação de tecnologias sociais e de baixo carbono, bem como ações de formação voltadas à convivência com o semiárido, agricultura resiliente às mudanças climáticas, preservação ambiental e manejo da água e do solo no Alto Sertão Sergipano.
Com determinação e compromisso, o Sr. Senivaldo procura implementar técnicas agroecológicas e de recuperação de solos degradados em seu Sítio Grota Funda. Ele faz uso de fertilizantes orgânicos e não utiliza agrotóxicos. Seu sonho é ver o sítio prosperar como um exemplo de harmonia entre a atividade agropecuária e a conservação ambiental.
Durante nossa visita ao sistema agroflorestal da Grota Funda, nos deparamos com uma variedade de espécies arbóreas, como caraibeiras, umbuzeiros, juazeiros, umburanas de cambão, pau-ferro, barrigudas, angico-de-caroço, pereiro, bom-nome, mororó, catingueira, quixabeira, entre outras. Ao longo da área, encontramos uma grande diversidade de plantas adultas e muitas plantas em fase inicial de crescimento, resultado dos processos naturais de dispersão de sementes.
"Com esse plantio, nós estamos renovando nossa caatinga, que muita gente destrói, nós estamos querendo construir nossa área. Hoje não temos mais tanto mandacaru como antigamente, porque essa região foi muito desmatada. E nós precisamos dos dois, porque misturamos o mandacaru com a palma, assim fica uma ração mais forte, ela prende mais na barriga, fica uma massa mais dura e as vacas remoem mais", afirmou Senivaldo.
Ações do Projeto na Região
A principal atividade agrícola e fonte de renda das famílias acompanhadas pelo projeto é a bovinocultura leiteira. Essa atividade agrícola é muito forte em todo o território e ainda mantém processos tradicionais de criação, como a retirada manual do leite, realizada duas vezes por dia.
O projeto tem realizado diversas ações estratégicas para garantir o suporte forrageiro e a recuperação de áreas degradadas, por meio de plantios consorciados de palmas, mandacarus, moringa, gliricidia, milho, feijão e algumas frutíferas. As mudas necessárias são produzidas e fornecidas pela AGENDHA.
"Desenvolvemos, assessoramos e apoiamos as famílias colaboradoras com serviços públicos e gratuitos de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), complementados com o repasse de materiais e insumos, para implantar e manejar o Subsistema BARROCAL. Essa tecnologia social é composta por três barramentos e suas margens são cercadas em um hectare para a implantação e manejo de um Sistema Agroflorestal Ciliar", explicou Maurício Aroucha, Coordenador do PRS Caatinga/AGENDHA.
A implantação das TecABC, integradas ao modo de vida das comunidades, representa não apenas uma oportunidade para atender às demandas atuais e futuras de produção de alimentos, mas também está alinhada com a agenda mundial de sustentabilidade ambiental e social. Essas técnicas são um conjunto de métodos que buscam melhorar as atividades produtivas, direcionando-as para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa, a conservação dos recursos naturais e a manutenção do equilíbrio ambiental, ao mesmo tempo em que promovem o crescimento sustentável da produção agropecuária.
A AGENDHA é parceira executora do Projeto Rural Sustentável Caatinga, uma iniciativa financiada pelo Fundo Internacional para o Clima do Governo do Reino Unido em cooperação com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), tendo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como beneficiário institucional. A execução do projeto é realizada pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS).
Bruna Cordeiro - ASCOM AGENDHA
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