Como parte da 7ª Semana de Popularização da Ciência, o Projeto Rural Sustentável da Caatinga promoveu, no último dia 25/05, um dia de campo no Sítio Grota Funda. A POP 2023 foi um evento importante, que veio para provocar a criação de novos espaços de debates e compartilhamento de saberes científicos.
A economia local de Pedro Leão é fortemente baseada na bovinocultura leiteira e na agricultura familiar. As áreas de caatinga são ocupadas por roças e sítios dedicados à criação de gado leiteiro, que fornecem matéria-prima para a produção de laticínios tão apreciados na região. O leite produzido nessas terras é de alta qualidade e é uma importante fonte de renda para as famílias locais.
Ao observar atentamente os arredores de onde estávamos, torna-se evidente que a Grota Funda recebeu esse nome em virtude das características geográficas do terreno, que se destacam pela presença de serras, vales e riachos intermitentes, com a marcante presença de mata fechada onde predomina espécies de caatinga arbórea e arbustiva. Essa formação topográfica peculiar confere à a essa região a aparência de estar situada em uma espécie de cavidade.
A agricultora Daniela Santos também relatou que existem outros nomes para a região, “aqui também é conhecido como Quiriba, mas as correspondências chegam com o nome de Lagoa das Queimadas”, afirmou ela.
Intercâmbio com INSA: Instituto Nacional do Semiárido Árido
O dia de campo no Sítio Grota Funda teve início com a participação dos Pesquisadores do INSA, que realizaram uma palestra sobre as Variedades Genéticas e o Melhoramento Genético da Palma Forrageira. Participaram como palestrantes Tiago Aires, pesquisador em produção vegetal, e Pedro Henrique Ferreira, pesquisador em produção animal, com foco na área de estudo da Biodiversidade do INSA.
Na oportunidade, foram apresentadas três variedades distintas de palma: a palma mão de moça ou baiana, a palma miúda ou doce, e a orelha de elefante mexicana ou africana. Cada uma dessas variedades possui suas características peculiares, adaptando-se de maneira singular ao ambiente em que são cultivadas.
Os pesquisadores, compartilharam informações cruciais sobre a relevância da palma forrageira e seus múltiplos usos, tanto na alimentação humana quanto animal. Foi enfatizado o Programa de Melhoramento Genético da cultura, atualmente em desenvolvimento pelo INSA (Instituto Nacional do Semiárido), com o intuito de aprimorar as características desejáveis das variedades existentes e promover avanços no cultivo.
No Laboratório de Análise de Alimentos do INSA realizam-se diversos levantamentos sobre os valores nutricionais das plantas forrageiras da caatinga. Até o momento, os resultados indicam que a palma, embora seja uma fonte de alimento amplamente utilizada, apresenta baixo teor de fibras. Isso pode ser problemático para animais ruminantes, como cabras, ovelhas e bovinos, que dependem dessas fibras para manter a saúde da digestão e prevenir doenças, como a diarreia. No entanto, a combinação estratégica da palma com outras forragens nativas e adaptadas tem se mostrado uma solução promissora.
Os pesquisadores ressaltaram que outras plantas, como o mata pasto e a jitirana, que são frequentemente consideradas pragas, podem desempenhar um papel importante na alimentação animal. Essas plantas, nativas e adaptadas à região, são ricas em proteínas e se complementam de maneira eficaz com a palma.
“O mata pasto, a jitirana, a gliricídia, que a gente vê muito como pragas, elas são plantas nativas e adaptadas a nossa região, é fácil fazer o feno delas e funcionam muito bem, essas plantas são ricas em proteínas e casam muito bem com a palma que tem baixo índice de proteína. Além da palma, o mandacaru e o facheiro também desempenham um papel importante, mas as forragens mencionadas anteriormente também podem ser eficazes”, afirma o pesquisador.
Os resultados dessa pesquisa têm despertado o interesse de produtores e especialistas da área, que agora buscam formas de implementar essas práticas alimentares inovadoras em suas criações. A expectativa é que o uso combinado de forragens nativas e adaptadas, aliado à palma, possa resultar em rações mais nutritivas e eficientes, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
Em suma, foi uma manhã produtiva, um momento de troca de conhecimento e informações entre os participantes, ressaltando a importância da palma forrageira e de outras plantas adaptadas ao clima semiárido. A disseminação dessas informações e a implementação de programas de melhoramento genético e boas práticas de manejo contribuem para o desenvolvimento sustentável da região, proporcionando benefícios econômicos, alimentares e ambientais. Na manhã de hoje, foi destacada a importância da atividade agropecuária como setor estratégico para a economia brasileira. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019), esse setor movimenta cerca de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Porém, a dimensão dessa atividade também traz consigo um desafio: a emissão de gases de efeito estufa.
Segundo dados do Banco Mundial (2010), o setor agropecuário é responsável por aproximadamente 43% das emissões de gás metano e 67% das emissões de óxido nitroso, que são os principais agentes do aquecimento global. Esses números são alarmantes e exigem a busca por soluções sustentáveis que possam reduzir essas emissões. É nesse contexto que as tecnologias de agricultura de baixo carbono ganham destaque. Essas práticas sustentáveis têm como objetivo aumentar a produtividade agrícola, preservar a vegetação nativa, garantir renda ao produtor e diminuir a emissão de gases de efeito estufa. A adoção dessas tecnologias representa não apenas uma oportunidade para atender às demandas atuais e futuras de produção de alimentos, mas também está alinhada com a agenda de sustentabilidade ambiental e social.
Além disso, a agricultura de baixo carbono converge com outras temáticas históricas e ainda atuais da Caatinga, como a convivência com o semiárido e seus métodos conservativos, bem como o combate à desertificação. Essa abordagem holística promove a sustentabilidade não apenas do setor agropecuário, mas também das populações locais e da biodiversidade, fortalecendo a resiliência frente às mudanças climáticas.
Os especialistas ressaltaram que a implementação dessas tecnologias requer parcerias e investimentos, tanto do setor público quanto do setor privado. É fundamental promover a capacitação dos produtores rurais e fomentar a pesquisa científica para o desenvolvimento de práticas adaptadas às particularidades da região da Caatinga.
Com o comprometimento de todos os envolvidos, a agricultura de baixo carbono pode ser uma solução viável e promissora para a sustentabilidade na Caatinga. Essa abordagem integrada contribui para a proteção do meio ambiente, a melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais e a promoção de um desenvolvimento econômico mais equilibrado e resiliente.
Bruna Cordeiro - ASCOM
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