O Projeto ATER Agroecologia da AGENDHA embarcou em uma viagem até a pacata comunidade do Serrote, localizada no município de Paulo Afonso/BA para conhecer de perto o agroecossistema (UPF) de Claudenora Francisca, agricultora familiar que se destaca pela produção agroecológica, sustentável e diversificada. Durante três anos de realização, a comunidade do Serrote foi acompanhada pela equipe do projeto, que realizou a articulação, mobilização, diagnóstico, planejamento comunitário e práticas agroecológicas a 540 nos Territórios Itaparica/BA e Semiárido NE II.
Durante esse período, foram desenvolvidas diversas atividades, incluindo visitas, plantio de mudas, feiras agroecológicas e a atualização de CAFs (Cadastro Nacional da Agricultura Familiar). No entanto, uma das fases mais importantes do projeto foi a caracterização dos agroecossistemas familiares, totalizando 54 experiências sistematizadas.
A reportagem destaca as adversidades enfrentadas por Claudenora durante a seca de 1987, momento desafiador que evidenciou sua capacidade de resiliência. A construção da casa própria em 1992 que marcou um nova fase de tranquilidade e ainda a conquista das cisternas de primeira e segunda água, que possibilitou a dignidade e segurança hídrica não só para a família como para todo o agroecossistema familiar.
Claudenora Francisca, é uma mulher forte e determinada, transformou seu quintal em uma verdadeira fonte de alimento e sustento para sua família. Com habilidade e conhecimento adquiridos desde sua infância quando seus pais a levavam para a roça, ela aprendeu a utilizar métodos naturais para cultivar e cuidar dos animais. Atualmente, ela planta feijão de corda, macaxeira, andu, milho e diversas ervas. Ela também possui criatórios de aves: patos e galinhas. E ainda um pomar com coco, manga, umbu, mamão, entre outros.
Eu tenho pé de mamão, plantado no início do projeto, pé de goiaba, macaxeira. Eu continuo indo para feira levando os produtos da minha colheita. E também vendo na feira da comunidade, que tá sendo uma feirinha muito boa pra gente. E na feirinha a gente indica, plante minha gente, plante isso, plante aquilo. Essa quinta mesmo, colhi um canteiro de coentro, não deu pra nada, vendeu rapidinho. E tem gente que eu não coloco, por que antes de colocar na feira, o povo já liga e encomenda, feijão de corda ou feijão verde. Andu eu tenho um pé de andu, é pra vender, afirma ela.
Ela nos contou que em 1982 deu um passo importante em sua vida: o casamento. Naquela época, a vida no campo era desafiadora, mas ela estava determinada a construir uma família e prosperar. Dois anos depois, Claudenora entrou para a associação comunitária, visando mais conhecimento para fortalecer sua produção. A comercialização de ovinos e caprinos tornou-se uma atividade importante. No entanto, em 1987, uma seca prolongada atingiu a região, trazendo grandes perdas na comunidade. "Muitos animais morreram devido à escassez de água e alimento. Foi um momento difícil", disse Claudenora.
"Uma passagem importante pra mim é o ano de 1992, que foi quando eu finalizei a construção da minha casa. E depois foi a aquisição da minha primeira cisterna, que foi a menor de consumo, essa veio em 2012", afirmou ela.
Existe diversos tipos de cisternas, essas tecnologias sociais de uso familiar e comunitário, utilizadas para armazenar água que pode ser utilizada pela família e gerenciada para o consumo dos animais, plantações e nos afazeres domésticos. Em 2015, Claudenora teve a oportunidade de participar de um programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) , o Projeto ATER sustentabilidade. Essa iniciativa trouxe novos conhecimentos sobre agroecologia e convivência com o semiárido, e segundo ela fortaleceu sua produção.
No ano seguinte, em 2016, ela conquistou a cisterna de segunda água, ou seja, de produção, "foi uma conquista muito boa, pois essa água eu pude usar para irrigar meus roçados, enquanto as chuvas não chegam", afirmou ela.
Em 2018, Claudenora desfrutou de um período de boa produção de milho e feijão, beneficiando-se das chuvas abundantes na região. Essa colheita farta contribuiu para sua segurança alimentar e também para a venda de excedentes. No ano de 2019, ela chegou a comercializar seus produtos no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), foi um período que exigiu atenção redobrada aos cultivos.
A vida de Claudenora é um exemplo de determinação, resiliência e sucesso na agricultura familiar. Ao longo dos anos, ela superou desafios climáticos, conquistou novos conhecimentos e alcançou uma produção diversificada e tradicional, com produtos como: como amendoim, feijão de corda, macaxeira, andu, milho, coco amarelo, ervas e temperos.
A agricultora nos mostrou com orgulho suas plantações bem cuidadas de feijão de corda, macaxeira, andu e milho, ressaltando a importância da diversificação de culturas para garantir a segurança alimentar e a resistência no período de estiagem. Nos primeiros anos, a venda de seus produtos ocorria na feira de Paulo Afonso, contudo, ao longo de 2023, por meio das feiras agroecológicas promovidas com o apoio da AGENDHA, ela passou a estruturar seus produtos para vendas locais. Esse apoio acontece com a doação ou empréstimos de barracas, divulgação e acompanhamento.
Além das plantações, Claudenora nos apresentou um galinheiro bem estruturado, onde cria galinhas e patos. Esses animais desempenham um papel fundamental na propriedade, fornecendo ovos, carne e insumos naturais. Outra característica marcante da propriedade de Claudenora é o plantio de coco amarelo. Ela nos explicou que o coco amarelo é uma variedade regional rica em nutrientes e que tem propriedades medicinais.
A história de Claudenora Francisca é um exemplo de como a agricultura familiar e a agroecologia pode ser uma solução viável e sustentável para garantir a produção de alimentos e a preservação do meio ambiente.
Essa reportagem investigativa foi realizada com base em informações coletadas na comunidade de Serrote, Paulo Afonso, em 01 de junho de 2023.
Bruna Cordeiro - Comunicadora Projeto ATER Agroecologia
Kommentare