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Campanha que construiu 1 mi de cisternas quer dobrar meta com Gilberto Gil

Em 1999, a ASA (Articulação do Semiárido, que congrega mais de 3.000 entidades) lançou o desafio: construir 1 milhão de cisternas na região mais seca do país. A meta parecia ousada, mas graças a um programa nacional, foi alcançada em 2014, e hoje existem na região mais seca do Brasil 1,2 milhão de cisternas.




"A cisterna mudou tudo na minha vida! Era um sonho ter uma cisterna. Com ela você tem tudo: além de pegar água limpa da chuva, tem água suficiente para molhar suas hortaliças" Maria das Neves, moradora da comunidade de Caiçara, em Juazeiro (BA)"

Maria das Neves está entre as pessoas que viram sua realidade se transformar a partir do acesso à água. Ela possui em seu terreno duas cisternas (a familiar e a de produção) e foi escolhida como uma das agricultoras símbolo de uma nova campanha da ASA porque, na infância, ela não pôde frequentar a escola porque tinha que buscar água com os pais.


Graças ao abastecimento garantido pela cisterna, em 2005 ela concluiu os estudos por meio do EJA (Programa de Educação de Jovens e Adultos). Hoje, ela planta em seu pequeno terreno coentro, alface, cebola, rúcula e couve.


"Eu tenho aqui tudo orgânico. É tudo saudável. Tenho também os meus pezinhos de fruteiras, uma goiabeira. Isso é muito.


Intitulada "Tenho sede", a nova campanha visa arrecadar recursos e alavancar obras para o financiamento de mais um milhão de cisternas no semiárido.


A ASA foi buscar o talento de Gilberto Gil para embalar a campanha: o clipe oficial foi gravado e divulgado na última sexta-feira (24) com o cantor baiano, que canta a música "Tenho sede" de autoria de Dominguinhos e Anastácia.


O clipe também é estrelado por agricultoras e agricultores que receberam uma cisterna nos últimos anos.


Semiárido, seca e cisterna O semiárido é uma região que ocupa 12% do território nacional e compreende 1.262 municípios do Nordeste e norte de Minas Gerais. É nessa área de baixo índice pluviométrico que vivem 28 milhões de brasileiros (38% deles em zonas rurais). Cada cisterna de uso familiar acumula 16 mil litros e serve para armazenar água da chuva —ou distribuída por carros-pipa em época de estiagem prolongada. Por garantir o acesso à água potável, ela é apontada como uma tecnologia indispensável para a convivência com a seca. Cada cisterna dessas custa em torno R$ 4,5 mil. A campanha lançada pela ASA recebe doações a partir de R$ 20. Clique aqui se quiser doar.


Sucesso das Cisternas


O Programa Cisternas, criado em 2003, é referência mundial e recebeu prêmios internacionais como o Prêmio Sementes 2009, da ONU (Organização das Nações Unidas), concedido a projetos de países em desenvolvimento feitos em parceria entre organizações não governamentais, comunidades e governos. Também recebeu também a premiação "Future Policy Award" (Política para o Futuro), em 2017, da World Future Council, em cooperação com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação.


Existem três tipos de cisternas:

  • Familiar (para consumo humano, de 16 mil litros);

  • Produção (de 52 mil litros, para abastecimento de produções e criações de animais familiares);

  • Escolares (também capacidade para 52 mil litros).

"Cisternas são uma tecnologia social criada nos anos 1950 por um agricultor chamado Manoel Apolônio de Carvalho, do estado de Sergipe. Apenas ali na década de 1980 é e que as organizações que compõem hoje a ASA junto com as universidades estudaram a tecnologia e formataram essa tecnologia do ponto de vista técnico, analisando volume, material necessário para poder ela ter essa característica que ela tem hoje", diz Alexandre Pires, coordenador do Centro Sabiá e coordenador-executivo da ASA.

A cisterna é uma tecnologia muito barata pelo impacto social que ela gera. E ela tem uma longa durabilidade: existem equipamentos que têm mais de 40 anos e que funcionam muito bem. Por ser uma tecnologia acessível, o domínio de como construir uma cisterna está espalhado pelo semiárido. E essa tecnologia não tem dono: é da sociedade, de todos aqueles que precisam dela.


Por: Carlos Madeiro, Colaboração para Ecoa, em Maceió (AL), em: UOL, 29/09/2021 06h00.

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